O presidente Michel Temer e o ministro da Agricultura, Blairo Maggi tentando impedir a queda do selo de garantia da carne brasileira está sob-risco desde a última sexta-feira, |
Terceiro maior produto
de exportação do Brasil, atrás da soja e do minério de ferro, as carnes
brasileiras conquistaram o mundo, tornando-se sinônimo de qualidade em mais de
150 países. Mas esse selo de garantia está sob-risco desde a última
sexta-feira, quando a Polícia Federal revelou um esquema de adulteração
envolvendo pelo menos 30 frigoríficos. Por si só, pela
natureza das descobertas, a operação Carne Fraca já teria o potencial de causar
estragos significativos no mercado interno. Afinal, qual brasileiro vai querer
comprar - e consumir - possível carne adulterada?
Mas o problema se torna
ainda pior porque essa mesma pergunta está sendo feita pelos compradores
internacionais - nesta segunda-feira, países como China, Chile e Coreia do Sul,
além da União Europeia, suspenderam temporariamente as importações de empresas
citadas na fraude. Por causa disso,
segundo economistas ouvidos pela BBC Brasil, o impacto na economia brasileira
pode ser "maior do que se imaginava". Eles ressalvam, contudo, que
tudo "dependerá de quanto vão durar os embargos e se mais países vão
aderir a ele".
Diante da crise o impacto na economia brasileira pode ser "maior do que se imaginava" |
'Péssimo
momento'
Mas existe um consenso:
a operação da PF veio em um "péssimo momento" para o agronegócio, um
dos pilares da economia brasileira, que vinha esboçando sinais de recuperação. "O
Brasil custou para abrir novos mercados e agora a imagem do país está abalada
lá fora. É difícil prever o que vai acontecer, mas não resta dúvida de que esse
escândalo será prejudicial para a economia brasileira", diz à BBC Brasil
José Carlos Hausknecht, sócio diretor da MB Agro, braço agrícola da consultoria
MB Associados.
Em outras palavras:
isso pode acarretar um prolongamento da recessão, afetando a vida de todos os
brasileiros. Já segundo estimativa da
consultoria LCA consultores, no pior dos cenários - se todos os países fecharem
as portas às importações de carne brasileira - o impacto no PIB pode ser de até
1 ponto porcentual. A previsão oficial do governo, que deve ser revisada para
baixo nos próximos dias, é de crescimento de 1%. "Ou seja, caso a hipótese
mais pessimista se confirme, a recuperação só viria em 2018", afirma Bruno
Campos, economista da LCA consultores.
Estima que uma redução de 10% nas exportações brasileiras de carne pode custar 420 mil postos de trabalho e R$ 1,1 bilhão a menos em impostos - notícia nada positiva em um momento de crise fiscal. |
Desemprego
e inflação
A revelação do esquema
de carne adulterada terá consequências para a economia brasileira, explicam os
especialistas, pela "importância do setor de carnes". Atualmente, de
toda a carne produzida no Brasil, 80% é consumida pelo mercado interno. O
restante vai para fora. No ano passado, as
exportações brasileiras do produto somaram mais de US$ 14 bilhões (R$ 43
bilhões), ou 7,5% do total exportado, atrás apenas do minério de ferro e da
soja.
Além disso, o setor de carnes
possui uma cadeia produtiva "muito extensa", com "efeitos
indiretos", lembra Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados. Oliveira estima que uma
redução de 10% nas exportações brasileiras de carne pode custar 420 mil postos
de trabalho e R$ 1,1 bilhão a menos em impostos - notícia nada positiva em um
momento de crise fiscal. Já a inflação também deve subir por causa do
escândalo, "devido a algum tipo de recall das carnes já distribuídas ao
comércio", diz à BBC Brasil André Perfeito, economista-chefe da Gradual
Investimentos.
Segundo os analistas seria um "grande retrocesso" para um setor que se tornou prioridade durante os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016). |
Apesar disso, ressalva
ele, o impacto na subida dos preços deve ser residual, já que o peso total das
carnes no índice oficial (IPCA) é de apenas 3,69%. "Nesse sentido, uma
alta adicional de 2% nesses produtos iria criar um impacto de 7 pontos base (ou
0,07%) na inflação plena: neste caso, se o IPCA fosse de 4,50%, ele ficaria em
4,57%", afirma. "Mas será
preciso saber mais detalhes sobre como isso vai ocorrer, pois não há notícias
de desabastecimento e não se trata da totalidade de toda a cadeia da
carne", acrescenta.
Concorrência e protecionismo
Estima que uma redução de 10% nas exportações brasileiras de carne pode custar 420 mil postos de trabalho e R$ 1,1 bilhãoa menos em impostos - notícia nada positiva em um momento de crise fiscal. |
Os especialistas também
apontaram que, por causa do escândalo, o Brasil poderia perder espaço para
outros competidores no mercado global de carnes.
Nesse sentido, segundo
eles, seria um "grande retrocesso" para um setor que se tornou
prioridade durante os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma
Rousseff (2011-2016). Nesse período, recursos públicos foram direcionados (via
BNDES, a agência nacional de fomento) para a criação dos chamados
"campeões nacionais" - com o apoio irrestrito do governo, empresas
como a JBS e a BRF formaram monopólios e se projetaram internacionalmente.
"Hoje em dia, o
mercado é altamente competitivo. Qualquer deslize pode ser fatal", diz
Oliveira, da GO Associados. Hausknecht, da MB Agro, concorda que o escândalo acaba
gerando uma oportunidade para potenciais concorrentes, mas avalia que,
atualmente, pelas condições do mercado, não há competidores à altura do Brasil.
"Trump (Donald Trump, presidente dos Estados Unidos) já deu sinais de que pretende lançar mão de medidas protecionistas. |
"A Austrália, por
exemplo, que poderia ser uma alternativa ao Brasil para a oferta de carnes à
China, ainda está recompondo o rebanho", diz, em alusão à forte seca que
forçou produtores australianos a elevarem o escoamento de animais para o abate.
"Já os Estados Unidos, o segundo maior produtor mundial de carne bovina,
tampouco tem muita entrada no mercado chinês por causa da escalada da tensão
entre Washington e Pequim."
"Por fim, a Índia
também é outro grande exportador de carne bovina, mas ela é de pior
qualidade", completa. Para Campos, da LCA Consultores, a maior
consequência do escândalo é dar munição a governos para impor mais tarifas
alfandegárias ao Brasil, em um contexto de maior protecionismo no mundo. "Trump
(Donald Trump, presidente dos Estados Unidos) já deu sinais de que pretende
lançar mão de medidas protecionistas. Nesse caso, isso (escândalo das carnes
adulteradas) pode ser usado como desculpa", conclui. Fonte BBC BRASIL
0 on: " O escândalo das carnes causou impacto na economia do País "