A última semana de 2016 termina
com um cenário pouco animador para os prefeitos e governadores brasileiros.
Representantes dos municípios estiveram nesta quinta-feira em Brasília com o
pires nas mãos pedindo que o Governo Michel Temer liberasse os 5 bilhões de
reais provenientes da repatriação de recursos ainda este ano. O objetivo deles
era que o valor fosse usado para fecharem as contas de dezembro, inclusive, em
alguns casos, para quitar a folha salarial. Ouviram do presidente que ele não
teria como descumprir uma recomendação do Tribunal de Contas da União e,
portanto, não liberaria esses valores agora. Só poderia fazê-lo em janeiro.
A negativa do chefe do Executivo
contribui para o seguinte resultado: quase a metade dos prefeitos (47,3%)
deixará dívidas para os seus sucessores que tomam posse no próximo domingo. Os
dados constam de um levantamento feito pela Confederação Nacional dos
Municípios, uma entidade que congrega os prefeitos das 5.568 cidades
brasileiras. O colapso fiscal nas prefeituras implicará em uma série de cortes
de gastos, redução de secretarias municipais, assim como de funcionários
terceirizados. Tudo isso dentro de um cenário em que a recuperação econômica
não será tão rápida, após quase dois anos de recessão. O próprio presidente
disse, nesta quinta-feira, que a melhora nas finanças deverá acontecer a partir
do segundo semestre de 2017.
No caso dos governadores houve um
jogo duplo pela parte deles. Em um primeiro momento, concordaram com todas as
exigências rígidas da gestão Temer entre meados de junho e o fim de novembro
para que tivesses suas dívidas negociadas. Depois tentaram e conseguiram usar
de sua influência no Congresso Nacional, em dezembro, para retirar todas as
contrapartidas das negociações da dívida que têm com a União. Entre elas, a
obrigação de reduzir em 10% o número de comissionados, suspender concursos
públicos e contratações, além de congelar os gastos públicos por dez anos em
todas as 27 unidades da federação que aderissem ao programa de renegociação.
Até conseguiram suspende essas medidas previstas no Regime de Recuperação
Fiscal, mas Temer vetou a maior parte delas.
O presidente Michel Temer recebe
prefeito de Uberaba, vice-governador de Minas Gerais e comitiva no Palácio do
Planalto. |
A recuperação fiscal, da forma
como veio ao Executivo, tornou-se mais ou menos inútil. Se não houver
contrapartida, quando você entrega o dinheiro para o Estado, aquilo servirá
para uma emergência, mas não para preparar o futuro”, afirmou o presidente em
seu pronunciamento de fim de ano aos jornalistas. No veto assinado pelo presidente
e publicado no Diário Oficial da União de quarta-feira, Temer alegou que “houve
um completo desvirtuamento do Regime, não sendo possível mais assegurar que sua
finalidade maior, a retomada do equilíbrio fiscal pelos estados, seja
assegurada”. Seguiu o presidente: “Não apenas a finalidade precípua do Regime
foi alterada; em verdade, os dispositivos remanescentes trazem elevado risco
fiscal para União”.
Com a decisão de fechar essa
porta aos Estados, o Governo disse que ainda não encerrará as discussões.
Prometeu que voltará a negociar com cada governador para tentar encontrar uma
saída para a crise que atinge quase todas as unidades da federação.
Acompanhado de 12 deputados
federais e dois senadores goianos, o governador Marconi Perillo se reuniu com o
presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto.
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Em um primeiro momento, os
Estados que mais seriam beneficiados com essa ajuda, de suspensão do pagamento
das dívidas temporariamente, seriam os três que decretaram estado de calamidade
financeira – Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. São os Estados
em que a relação Dívida Consolidada/Receita Corrente é mais preocupante. Em
média, cada um deles tem 2% de sua receita comprometida com as dívidas com a
União. Juntos, eles devem 225 bilhões de reais – quase 40% dos débitos de todos
os Estados, que é de 591 bilhões. Apenas para efeito de comparação, é mais do
que o dobro do que o governo federal prevê gastar no ano que vem com suas
empresas públicas, entre elas Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobrás e Caixa
Econômica.
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