O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin
autorizou na noite desta quinta-feira a abertura de inquérito para investigar
os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente
José Sarney e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado por tentativa de
obstrução da Operação Lava Jato. A decisão de Fachin, a primeira desde que ele
foi sorteado como novo relator da Lava Jato na Corte após a morte do ministro
Teori Zavascki, atende ao pedido feito pelo procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, nesta semana.
O pedido de Janot, que afirma que os peemedebistas formam uma
“quadrilha”, tem como base o acordo de delação premiada de Machado, que gravou
seis horas de ligações telefônicas os senadores e o ex-presidente. Nos diálogos
com o ex-diretor da subsidiária da Petrobras, Sarney, Renan e Jucá fizeram
comentários que demonstravam suas intenções de brecar as apurações da Lava
Jato.
Tanto Sarney quanto Renan, que agora é alvo de 13 inquéritos
no Supremo, buscavam alternativas para influenciar o então relator da operação
no STF, Teori Zavascki, enquanto Jucá foi ainda mais direto: falou em “estancar
essa sangria”. “É chocante, nesse sentido, ouvir o senador Romero Jucá
admitir, a certa altura, que é crucial ‘cortar as asas’ da Justiça e do
Ministério Público, aduzindo que a solução para isso seria a Assembleia
Constituinte que ele e seu grupo político estão planejando para 2018”, ressalta
Rodrigo Janot.
De acordo com o procurador-geral, o objetivo dos
peemedebistas era construir um acordo com outros partidos no Congresso para
alterar leis que pudessem interferir nos rumos da Lava Jato, entre as quais a
proibição de acordos de delação premiada com investigados ou réus presos,
mudanças nas regras para que empresas firmassem acordos de leniência,
permitindo que os acordos fossem firmados mesmo sem o reconhecimento de crimes,
e a proibição de execução de penas após julgamento na segunda instância.
Para Janot, há “elementos concretos de atuação concertada
entre parlamentares, com uso institucional desviado, em descompasso com o
interesse público e social, nitidamente para favorecimento dos mais diversos
integrantes da organização criminosa”.
No pedido aceito pelo relator da Lava Jato no STF, a PGR
também aponta como tentativa de obstrução a intenção de reduzir poderes do
Judiciário e do Ministério Público com a realização de uma nova constituinte.
“Não bastasse a trama para mudar a legislação, os senadores Renan Calheiros e
Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney ainda revelam o plano de incluir o
Supremo Tribunal Federal, reserva necessária de sobriedade institucional, na
costura política de um grande acordo espúrio para evitar o avanço do complexo
investigatório”, conclui o procurador-geral da República. Fonte Estadão
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